19 de março de 2007


Nosso Amor do Passado
   (Conversations With Other Women, 2005)


   Duas pessoas se encontram em um casamento, iniciam uma conversa que se estende ao longo da noite, e vai aos poucos revelando seu passado, e a atração mútua que ainda existe entre os dois.
   Vi este filme há um certo tempo atrás, e fiquei debatendo por um longo período se deveria o não escrever algo sobre ele. A razão para isto é o fato de que por mais que eu tentasse, não conseguia exprimir de forma coerente e esclarecedora o quanto gostei do longa – se apoiando em um roteiro sólido, atuações impressionantes do par central (Helena Boham Carter e Aaron Eckhart) e em uma técnica de divisão de tela, o filme vai nos mostrando a história destes personagens – se conheceram quando jovens, se apaixonaram, tinham uma vida e um futuro juntos. Infelizmente, a vida raramente segue como planejamos, e por diversos motivos, estes se separam.
   Daí para frente, suas vidas seguem caminhos diferentes, conhecem e se tornam outras pessoas, passam até a viver em países distintos. Mas anos depois, ao se reencontrarem, fica claro que os sentimentos que possuíam um pelo outro ainda continuam vivos e fortes – não conseguem se afastar um do outro, mas será tarde demais para tentar resgatar o amor, a possibilidade de uma felicidade conjunta?
   É a técnica de divisão de tela que nos permite ver com clareza tanto os conflitos dos personagens quanto seu passado. Em alguns momentos, vemos realidades alternativas, de como os eventos poderiam ter discorrido, ou então um dos personagens faz referência à um evento do passado de ambos, e podemos ver o que ocorreu pela tela dividia; em outros momentos, um deles faz uma afirmação, repetida na tela, com a intenção de apontar um sentimento diverso - por vezes é algo que a pessoa gostaria de poder comunicar, mas não consegue, ou simplesmente acha que não deve, outras vezes é algo que soou de uma forma em sua mente, mas saiu de outra quando falado.
   O filme tem duas edições disponíveis em seu DVD – uma, presente nos extras, é aquela originalmente almejada pelo diretor, onde todo o filme se passa na tela dividida, e a outra, mais convencional, utiliza este artifício apenas em momentos selecionados. Assisti a versão tradicional por primeiro, e apesar de ter me incomodado um pouco com esta técnica de filmagem no início, terminei concluindo que ela apenas adiciona à história, nos dando um maior terreno para explorar.
   De qualquer forma, ao chegarem os créditos finais, o quê fica não são divagações sobre a técnica utilizada, e sim a melancolia, a reflexão sobre oportunidades perdidas, sobre um passado mais feliz que não volta mais, sobre a dor de nem sempre ser a pessoa escolhida, e além de tudo, sobre a impotência de não poder mudar, apagar, consertar, refazer o quê passou.

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